A assimilação da informação é a finalização de um processo
de aceitação que transcende o seu uso. É um ato de apropriação
que cria conhecimento no receptor e em sua ambiência. Este é o destino final do
fenômeno da informação: criar conhecimento modificador e inovador do indivíduo
e do seu contexto. Há que considerar agora os fatores
determinados por uma tecnologia intensa em inovação na informação e comunicação,
mutante e veloz. São os s cúmplices
responsáveis pelo reposicionamento dos agentes do setor de que atinge o
produtor de estoques, o documento, a transferência da informação e, sobretudo a
relação do usuário com tudo isso.
Conhecer é um ato de interpretação individual, uma
apropriação da informação pelas estruturas mentais de cada sujeito. A geração de conhecimento é uma reconstrução
destas estruturas no indivíduo, que acontece através de sua competência
cognitiva, ou seja, é uma modificação no estoque mental de saber acumulado por
cada um, resultante de uma interação com uma estrutura de conteúdo. O conhecimento só se realiza na
consciência dos receptores sendo,
portanto, subjetivo e relativo a cada indivíduo.
Porém, quando pensamos em tecnologias de informação e
comunicação pensamos de imediato no computador, na telecomunicação e na
convergência da base tecnológica. Contudo,
sendo essenciais para a nova técnica, estas são pequenas conquistas, são
gadgets efêmeros que acompanham a infraestrutura da tecnologia: conjuntos de
fios, fibras óticas, circuitos, pixels de fósforo que formam os esqueletos de distribuição da
informação. As reais modificações das
tecnologias intensas de informação trouxeram ao contexto um novo elaborar do
pensamento e são às relacionadas ao
tempo e ao espaço da informação; a interatividade e a interconectividade. Esta sim é a inovação que ficará para sempre.
A interatividade representa a possibilidade de acesso pelo receptor
em tempo real, no entorno de zero, a diferentes estoques de informação. A
interatividade modifica a relação usuário-tempo-informação. Reposiciona:
os produtores de informação, o acesso à informação sua distribuição e a
própria inscrições em que estão os conteúdos. Cria um novo
espaço baseado na velocidade da transferência das narrativas
A conectividade está relaciona com a possibilidade do
usuário de informação em deslocar-se no momento de sua vontade de um espaço de
informação para outro espaço de informação. De um estoque para outro. O usuário
passa a ser o seu próprio mediador de escolha de informação, o determinador de
suas necessidades. Passa a ser o julgador de relevância do documento e do
estoque que o contêm em tempo real, como se estivesse colocado virtualmente
dentro do sistema de armazenamento e recuperação da informação. A conectividade reposiciona a relação
usuário-espaço-informação. O usuário deixa sua posição de espectador do processo
e atua junto aos estoques. Interage com documentos e usa a interface de diferentes linguagens.
Nessa sua nova posição o receptor percebe, ainda, que não é
suficiente ter somente acesso ao conteúdo, mas que necessita, também, abalizar o seu significado e estar apto a
reelaborar as narrativas em seu proveito e no da comunidade em que ele vive a
sua odisseia individual. Estas mudanças operadas no status tecnológico das atividades de acesso,
armazenamento e disseminação da
informação trazem mutações
contínuas na:
a) mudança na
estrutura de informação; as narrativas
provincianas, pois estão presas ao formato papel e tinta, são substituídas por conteúdos cosmopolitas
em base digital alocadas em repositórios eletrônicos no ciberespaço. Narrativas
digitais estão em uma trajetória vagante,
livre e entrelaçada ao infinito. Seu percurso de passos delirantes é sem
destino certo ou explicações fáceis; um percorrer de labirintos de medusas
entrelaçadas.
b) mudança no
fluxo de informação que tradicionalmente era guiado pelo formato do documento,
como em um folhetim que vai se contanto signo a signo e passa a ser orientado
pela metáfora ampliadora que tem no link a passagem para sair e aumentar o tema.
c) mudança no
profissional da informação, que está hoje em um ponto no presente entre o
passado e o futuro. Convive com técnicas
tradicionais de sua habilidade, mas precisa
atravessar para a outra realidade e novas tarefas, onde estão indo seus
usuários.
Os modos de observar e viver a realidade tem variado ao
longo do tempo. William Ford Gibson que
cunhou a palavra ciberespaço introduzia novos conceitos para uma época em se
digitalizando com inteligências artificiais avançadas: O ciberespaço diz ele é
o lugar de comunicação que descarta a
necessidade do homem físico para constituir uma troca de informação. Um espaço
em que a vivência não necessita uma presença corpórea.
Podemos diferenciar esta ambiguidade como estar na terra ou no viver no mundo. A terra
é a parte sólida do globo, espaço e território da vida temporal profana e
física com fundamento real seguro, sólido e incontestável. E é na força desta
posição que a terra passa a ocupar um lugar no universo das realizações
físicas; um lugar que converte o espaço em possibilidades de fixar, espacializar e
localizar. Ao longo da história, a terra tem proporcionado aos homens os
recursos para criar, viver, morrer.
O mundo não tem a realidade física como um principio regulador na
relação com outros seres e seus artefatos. O mundo é o continuum das relações sustentadas pela
técnica e sua tecnologia. O eixo, em que giram o princípio e o fim de todas as
coisas sem território definido sem pátria limitada, pois: "para o peito
doido do homem nenhuma pátria é possível!"
É difícil entender e
observar o momento exato em que estamos inseridos, por mais incrível que ele
possa ser, pois existe uma proximidade alienante que nos impede de ver nossa atualidade. Estar e ser contemporâneo convoca uma relação
intrincada entre nós e o tempo e o espaço. O atual é o espaço do momento exato
que a alma fica como que suspensa entre dois estado. Todos os que pensam estar
ajustados com a sua época não podem fitá-la nesta proximidade. Estar na
contemporaneidade não é um entrosamento final com o atual, mas é um estar ali com intensidade transitória.
Talvez por isso
não possamos ter o afastamento
necessário para entender que existimos hoje em duas realidades: uma realidade
objetiva onde vivemos corporalmente
presos a uma presença física aterrada e onde construímos todos os atos e traços de nossa aventura
individual em direção a um fim. Em uma outra
realidade vivemos a potencialidade de nosso ser virtual que significa a
extrapolação do concreto e do rompimento
com as formas tradicionais do acontecer. Nesta outra realidade vivemos sem
necessidade de uma presença física, não importando distancias ou superfícies.
Nela podemos ser o avatar de tudo que sonhamos ser na atualidade objetiva.
É importante sentir, então, que habitamos duas realidades ao
mesmo tempo. A anfibiedade que vivemos é a capacidade adquirida de habitar e
interatuar em contextos e condições diferenciadas. É a anfibiedade do animal
que pode viver na terra ou no mundo. Ou aterrado no viver físico ou desatado
destas amarras para o mundo das coisas virtuais. Gibson nos disse "um dos nossos erros é a distinção que
fazemos entre digital e analógico e entre virtual e real. No futuro esta diferença
será literalmente impossível. A distinção entre o ciberespaço e o que não é ciberespaço será inadmissível."
A nossa anfibiedade faz nosso viver estar em dois espaços: o
da realidade da existência e o da realidade potencial onde existimos
metaforicamente linkados a outros que nos definem. São eles que executam a
transferência do que somos para um
significado decidido por aqueles que nos designam. No mundo virtual
somos, então, definidos por quem nos olha e conosco convive. Minhas
narrativas existem virtualmente no mundo
do meu outro sem distancia espaço ou tempo definido. Minha vivência é a da
conexão e meu destino são os meus links.
Virtualmente existo na translação da metáfora, na transferência de
minha escrita para um âmbito simbólico que não é fixo, físico ou designado; ele
se fundamenta num movimento sem corpo em que todas as partículas têm, só por um instante, a mesma velocidade e se mantém em uma direção
inconstante. Uma relação de separação entre dois instantes, dois lugares ou
dois estados do ser.
Nesta diferenciação de espaço e tempo estão colocados todos
os paradigmas de uma nova ciência da informação
Aldo A Barreto
Aldo A Barreto
Notas
1 - Foram usados no
texto os conceitos de “Ma” e “Utsori” como definidos por Roland Barthes.
2 - William Gibson autor do famoso livro "Neuromancer
(1984), onde cunhou o termo Ciberespaço.
3 - Hoelderlin (1795) citado em Emmanuel Carneiro Leão, “A
Técnica e o Mundo no Pensamento da Terra”
4 - Reflexão apresentatada quando da participação online via skipe na banca de mestrado de Angela Claro da CI da Unesp de Marilia em 25/01/2013
4 - Reflexão apresentatada quando da participação online via skipe na banca de mestrado de Angela Claro da CI da Unesp de Marilia em 25/01/2013