domingo, 27 de janeiro de 2013

Paradígmas da informação no espaço das conexões imediatas




A assimilação da informação é a finalização de um processo de aceitação  que transcende o seu uso. É um ato de apropriação que cria conhecimento no receptor e em sua ambiência. Este é o destino final do fenômeno da informação: criar conhecimento modificador e inovador do indivíduo e do seu contexto. Há que considerar agora os fatores  determinados por uma tecnologia intensa em inovação na informação e comunicação, mutante e veloz.  São os s cúmplices responsáveis pelo reposicionamento dos agentes do setor de que atinge o produtor de estoques, o documento, a transferência da informação e, sobretudo a relação do usuário com tudo isso.

Conhecer é um ato de interpretação individual, uma apropriação da informação pelas estruturas mentais de cada sujeito.  A geração de conhecimento é uma reconstrução destas estruturas no indivíduo, que acontece através de sua competência cognitiva, ou seja, é uma modificação no estoque mental de saber acumulado por cada um, resultante de uma interação com uma estrutura  de conteúdo. O conhecimento só se realiza na consciência dos receptores  sendo, portanto, subjetivo e relativo a cada indivíduo.

Porém, quando pensamos em tecnologias de informação e comunicação pensamos de imediato no computador, na telecomunicação e na convergência da base tecnológica.  Contudo, sendo essenciais para a nova técnica, estas são pequenas conquistas, são gadgets efêmeros que acompanham a infraestrutura da tecnologia: conjuntos de fios, fibras óticas, circuitos, pixels de fósforo  que formam os esqueletos de distribuição da informação. As reais modificações  das tecnologias intensas de informação trouxeram ao contexto um novo elaborar do pensamento e são às  relacionadas ao tempo e ao espaço da informação; a interatividade e a interconectividade.  Esta sim é a inovação que ficará  para sempre.

A interatividade representa a possibilidade de acesso pelo receptor em tempo real, no entorno de zero, a diferentes estoques de informação. A interatividade modifica a relação usuário-tempo-informação.  Reposiciona:  os produtores de informação, o acesso à informação sua distribuição e a própria  inscrições  em que estão os conteúdos. Cria um novo espaço baseado na velocidade da transferência das narrativas

A conectividade está relaciona com a possibilidade do usuário de informação em deslocar-se no momento de sua vontade de um espaço de informação para outro espaço de informação. De um estoque para outro. O usuário passa a ser o seu próprio mediador de escolha de informação, o determinador de suas necessidades. Passa a ser o julgador de relevância do documento e do estoque que o contêm em tempo real, como se estivesse colocado virtualmente dentro do sistema de armazenamento e recuperação da informação. A  conectividade reposiciona a relação usuário-espaço-informação. O usuário deixa sua posição de espectador do processo e atua junto aos estoques. Interage com documentos  e usa a interface de diferentes linguagens.

Nessa sua nova posição o receptor percebe, ainda, que não é suficiente ter somente acesso ao conteúdo, mas que necessita, também,  abalizar o seu significado e estar apto a reelaborar as narrativas em seu proveito e no da comunidade em que ele vive a sua odisseia individual. Estas mudanças operadas no  status tecnológico das atividades de acesso, armazenamento e disseminação da  informação trazem  mutações contínuas na: 

         a) mudança na estrutura de informação; as narrativas  provincianas, pois estão presas ao formato papel e tinta,  são substituídas por conteúdos cosmopolitas em base digital alocadas em repositórios eletrônicos no ciberespaço. Narrativas digitais estão em uma  trajetória vagante, livre e entrelaçada ao infinito. Seu percurso de passos delirantes é sem destino certo ou explicações fáceis; um percorrer de labirintos de medusas entrelaçadas.

         b) mudança no fluxo de informação que tradicionalmente era guiado pelo formato do documento, como em um folhetim que vai se contanto signo a signo e passa a ser orientado pela metáfora ampliadora que tem no link a passagem para sair e aumentar o tema.

         c) mudança no profissional da informação, que está hoje em um ponto no presente entre o passado e o futuro.   Convive com técnicas tradicionais de sua habilidade, mas precisa  atravessar para a outra realidade e novas tarefas, onde estão indo seus usuários.

Os modos de observar e viver a realidade tem variado ao longo do tempo. William Ford Gibson  que cunhou a palavra ciberespaço introduzia novos conceitos para uma época em se digitalizando com inteligências artificiais avançadas: O ciberespaço diz ele é o  lugar de comunicação que descarta a necessidade do homem físico para constituir uma troca de informação. Um espaço em que a vivência não necessita uma presença corpórea.

Podemos diferenciar esta ambiguidade como  estar na terra ou no viver no mundo. A terra é a parte sólida do globo, espaço e território da vida temporal profana e física com fundamento real seguro, sólido e incontestável. E é na força desta posição que a terra passa a ocupar um lugar no universo das realizações físicas; um lugar  que  converte o espaço  em possibilidades de fixar, espacializar e localizar. Ao longo da história, a terra tem proporcionado aos homens os recursos para criar, viver, morrer.

O mundo não tem a  realidade física como um principio regulador na relação com outros seres e seus artefatos. O mundo é  o continuum das relações sustentadas pela técnica e sua tecnologia. O eixo, em que giram o princípio e o fim de todas as coisas sem território definido sem pátria limitada, pois: "para o peito doido do homem nenhuma pátria é possível!" 

É difícil entender  e observar o momento exato em que estamos inseridos, por mais incrível que ele possa ser, pois existe uma proximidade alienante que nos impede de ver nossa atualidade.  Estar e ser contemporâneo convoca uma relação intrincada entre nós e o tempo e o espaço. O atual é o espaço do momento exato que a alma fica como que suspensa entre dois estado. Todos os que pensam estar ajustados com a sua época não podem fitá-la nesta proximidade. Estar na contemporaneidade não é um entrosamento final com o atual, mas  é um estar ali com intensidade transitória.

Talvez por isso   não   possamos ter o afastamento necessário para entender que existimos hoje em duas realidades: uma realidade objetiva onde vivemos  corporalmente presos a uma presença física aterrada e onde construímos todos os  atos e traços de nossa aventura individual  em direção a um fim. Em uma outra realidade vivemos a potencialidade de nosso ser virtual que significa a extrapolação do concreto e  do rompimento com as formas tradicionais do acontecer. Nesta outra realidade vivemos sem necessidade de uma presença física, não importando distancias ou superfícies. Nela podemos ser o avatar de tudo que sonhamos ser na atualidade objetiva.

É importante sentir, então, que habitamos duas realidades ao mesmo tempo. A anfibiedade que vivemos é a capacidade adquirida de habitar e interatuar em contextos e condições diferenciadas. É a anfibiedade do animal que pode viver na terra ou no mundo. Ou aterrado no viver físico ou desatado destas amarras para o mundo das coisas virtuais. Gibson nos disse  "um dos nossos erros é a distinção que fazemos entre digital e analógico e entre virtual e real. No futuro esta diferença será literalmente impossível. A distinção entre o ciberespaço e o que não  é ciberespaço será inadmissível."

A nossa anfibiedade faz nosso viver estar em dois espaços: o da realidade da existência e o da realidade potencial onde existimos metaforicamente linkados a outros que nos definem. São eles que executam a transferência do que somos para um  significado decidido por aqueles que nos designam. No mundo virtual somos, então, definidos por quem nos olha e conosco convive. Minhas narrativas  existem virtualmente no mundo do meu outro sem distancia espaço ou tempo definido. Minha vivência é a da conexão e meu destino são os meus links. 

Virtualmente existo na  translação da metáfora, na transferência de minha escrita para um âmbito simbólico que não é fixo, físico ou designado; ele se fundamenta num movimento sem corpo em que todas as partículas têm,  só por um instante,  a mesma velocidade e se mantém em uma direção inconstante. Uma relação de separação entre dois instantes, dois lugares ou dois estados do ser.

Nesta diferenciação de espaço e tempo estão colocados todos os paradigmas de uma nova ciência da informação

Aldo A Barreto

Notas

1 -  Foram usados no texto os conceitos de “Ma” e “Utsori” como definidos por Roland Barthes.
2 - William Gibson autor do famoso livro "Neuromancer (1984), onde cunhou o termo Ciberespaço.
3 - Hoelderlin (1795) citado em Emmanuel Carneiro Leão, “A Técnica e o Mundo no Pensamento da Terra”
4 - Reflexão apresentatada quando da participação online via skipe na banca de mestrado de Angela Claro da CI da Unesp de Marilia em 25/01/2013

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